11.10.06

A estória que virou História da Rosinha.


Minha avó mora num pequeno apartamento com uma neta e duas bisnetas. Ela é mãe do meu pai, que faleceu recentemente.

Num dia desses, enquanto costurava sozinha em casa e escutava a missa no seu radinho de pilhas, fez um desejo pra si mesma: Queria que meu pai mandasse algum sinal se estivesse bem. Uma rosa.

Deve ser a pior coisa do mundo ver seu filho morrer antes de você. O pior dia da minha vida passei chorando em frente ao caixão gigantesco do meu pai. Dei-lhe o último beijo com o seu corpo ainda quente, em cima de uma mesa de necrotério. Fazia frio. O dia mais frio do ano pra mim. Acariciei sua face gordinha, e ainda sinto a pele dele em minhas mãos.

Se para mim esta foi uma experiência totalmente surreal, traumatizante, abalável; imagine só para minha vó. O filho dela, alguém que ela conhece desde que não era ninguém, simplesmente foi embora para sempre.

Foi arrancado um grande pedaço da vida dela.

A missa acabou, ela continuou costurando, almoçou; enfim, tudo voltara ao normal. Até que no final da tarde uma de suas bisnetas foi até a casa dela para entregar-lhe uma rosa. Uma rosa roubada, de um jardim proíbido. Uma rosa.

Ela ainda perguntou o porque da menina ter-lhe trazido a rosa. A menina não soube responder. Minha avó estava sozinha em casa no momento em que pediu uma rosa para o meu pai.

A rosa chegou. Como se ele tivesse escutado seus pensamentos, e mandado a criança pegar a rosa e levar até minha avó.

Dizem que as crianças são anjos. Dizem que elas escutam melhor do que ninguém, e que sabem a lógica da vida mais do que qualquer sábio estudioso.

E assim, o coração da pobre velhinha costureira acalmou-se. Por um instante, sentiu o perfume daquela rosa que chegou á suas mãos sabe-se lá como. E lembrou-se de seu filho que agora vive em lembrança, vive no coração, e vive para sempre.

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