20.1.09

Sonho.

O pico do Jaraguá havia se transformado em um vulcão. Não sei como. Só sei que soltava uma fumaça cinza que transformava tudo que tocava em pó, e bolas de fogo que também soltavam essa fumaça.

Estávamos em casa, eu e minha mãe. Demoramos pra perceber que estávamos em perigo. Só realmente sentimos a gravidade da situação quando dois sobrados que podemos ver da janela de casa se desfizeram em pó cinza, com famílias inteiras, também virando pó.

Nada sobrava. De ninguém. Nem algum vestígio que depois pudesse aproveitar-se em uma análise de DNA. Só restava a lembrança de quem sabia que tal família tinha vivido em tal lugar; hoje, um cemitério de cinzas.

Pegamos as malas. Enchemos de qualquer roupa. Uma mala grande pra cada uma, e outra para algum sapato, sei lá. Muitas coisas ficaram para trás. Coisas que eram minhas, que eu amava, ficaram para trás. Me arrependi de esquecer as fotos do meu pai.

Pegamos o cachorro no colo, descemos os 8 andares de escada em caracol até a garagem. Chegamos com um pouco de tontura, mas o medo e a pressa falavam muito mais alto. Peguei um pano, molhei com um pouco de uma água velha que estava numa garrafinha dentro do carro. Já não se podia usar a água das torneiras, que estava infectada. Coloquei o pano no meu rosto, para chegar e abrir o portão. Consegui, com bastante esforço. Entrei no carro como se fosse um abrigo anti-bombas, anti-terrorismo, ou anti-morte. Acelerando o máximo possível, fomos embora. Um pedaço da vida ficou em casa, com objetos, enquanto tentávamos salvar o outro pedaço, físico e espiritual, compulsivo. Talvez o pedaço que realmente vale a pena, talvez não.

E corremos como se o interior fosse o lugar mais seguro do mundo...

19.1.09

Crise Financeira trabalhista.

Um ócio empregatício impera sobre esta empresa nesse momento. Pelo menos é isso o que eu sinto. O preenchimento das vagas é de acordo com um quadro de “espaços disponíveis” na grade, e não de “necessidades que surgem”, e eu tenho muito pouco tempo de experiência em empregos pra saber o que é isso.

Só sei que eu não sou a única que sente sono, que sente um leve desespero quando chega as 10 da manhã e o serviço já está quase que totalmente feito.

Então, o que fazemos aqui, quase sempre, é preencher as horas.

Assim como na vida, quase sempre estamos esperando pelo “depois”; o qual será o “preenchedor” das horas subseqüentes. Aquelas horas pelas quais a gente espera, seja pra assistir TV, fazer artesanato, sexo, comida, limpar a casa... Ou alguma dessas coisas que nos fazem sentir especiais e úteis em alguma hora.

E aí fica um dilema difícil:
Sendo de um cargo baixo, ou um cargo braçal qualquer, você sempre tem mais funções, mais serviço, mais atividades; porém recebe menos em matéria de salário.
Sendo de um cargo mais alto, num escritório qualquer, sentado na frente do computador, você tende a ter menos funções, e ganhar mais. Mas isso é só a tendência que eu vejo aqui, num banco.

E como dizem um velho ditado por aqui: Quanto mais se trabalha, mais chances de errar. Quanto menos trabalhar, menos vai errar.

E eu não quero errar, mas quero trabalhar ser útil.

16.1.09

Deu Branco.

Estou em cima do muro. Em cima de um muro com caquinhos de vidro (de garrafa de cerveja quebrada) que foram colocados minuciosamente por algum objetivo. Não sei pra que lado ir, ambos contém a mesma distância, e dão num mesmo lugar.

Pelo menos é isso o que eu acho. Nunca conseguimos prever o final, e se conseguíssemos a vida não teria a graça de seus acontecimentos e surpresas, fatais ou não, e não saberíamos o objetivo de viver, já que a morte é a primeira coisa prevista por quem entra neste planeta.

Pra quê arrumar o quarto se ele ficará sujo e desarrumado depois, de novo, né?

Não gostaria de estar nessa situação. Mas também, não é caso de vida ou morte, pois sempre tem algum chinês em estado pior que eu, e reclamando menos. Mas que eu gostaria de estar sentada, melhor, deitada no sofá fazendo nada, isso sim.


E também, se eu estivesse no sofá, sentada ou deitada, estaria reclamando que gostaria de estar fazendo alguma coisa.


E estar em cima do muro é alguma coisa, mas não é alguma coisa que se faça. É alguma conseqüência de ação (ou da falta dela, com certeza), ou a falta de algum instinto que só os bravos e fortes (mentalmente) possuem, e que não se encaixa dentro de mim de maneira alguma. Eles (os bravos) sabem evitar isso, ou sabem ignorar a ponto de não interferir em nada, em ninguém, nunca.


E eu sei que quase todo mundo é assim.
Parabéns a todos, então!